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O Perigo Silencioso: Por que o silicone industrial ainda é uma ameaça à saúde de mulheres trans no Brasil

Foto do escritor: Dra. Jaqueline SouzaDra. Jaqueline Souza

Estudo com 576 mulheres trans revela dado alarmante: 49% já utilizaram silicone industrial e 43% relataram problemas de saúde após o uso


Harbor Medic
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Essa prática perigosa persiste na comunidade trans brasileira: o uso de silicone industrial para modificações corporais. Um estudo transversal realizado em sete municípios do Estado de São Paulo, com dados coletados entre 2014 e 2015, revelou números preocupantes: entre 576 mulheres trans e travestis entrevistadas, 49% já haviam utilizado silicone industrial em seus corpos. A pesquisa também apontou que a média de idade para a primeira aplicação é de 22 anos, e aproximadamente 43% das participantes informaram ter desenvolvido problemas de saúde decorrentes do uso.


O que é Silicone Industrial?

O silicone industrial é uma substância bruta de aspecto oleoso, desenvolvida exclusivamente para fins industriais. Trata-se de um compósito à base de silicone com cargas minerais e aditivos, conhecido também como silicone técnico composto. Este material é utilizado principalmente para:

  • Limpeza de peças de avião e carros

  • Vedação de vidros

  • Impermeabilização de azulejos

  • Lubrificação de equipamentos

Suas características incluem alta resistência térmica, flexibilidade e durabilidade, propriedades que o tornam excelente para uso industrial, mas extremamente perigoso quando introduzido no organismo humano.


Uma Realidade Preocupante

Apesar dos avanços na medicina e das políticas públicas voltadas para a população LGBTQIAPN+, estimativas alarmantes indicam que cerca de metade das mulheres trans já recorreu a esta prática arriscada em algum momento de suas vidas.


Por Trás das Estatísticas: Histórias Reais

O que leva alguém a arriscar a própria vida com uma substância industrial? A resposta está em uma complexa teia de fatores sociais, econômicos e psicológicos. A dificuldade de acesso aos serviços de saúde especializados, combinada com a pressão social por adequação a padrões estéticos e a vulnerabilidade socioeconômica, cria um cenário propício para que "bombadeiras" - pessoas sem formação médica que aplicam o silicone industrial - continuem atuando.


Consequências que podem ser irreversíveis

Os riscos associados ao uso de silicone industrial são extensos e potencialmente fatais. A substância pode causar uma série de complicações:

Curto Prazo:

  • Dores intensas

  • Edemas graves

  • Reações alérgicas severas

  • Infecções localizadas

  • Deformidades visíveis


Longo Prazo:

  • Embolia pulmonar

  • Necrose tecidual

  • Infecções sistêmicas

  • Deformidades permanentes

  • Comprometimento de órgãos vitais

  • Em casos extremos, óbito


O Caminho da Prevenção

A ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) proíbe veementemente o uso de silicone industrial para fins estéticos. Mas além da proibição, é fundamental entender que existem alternativas seguras e legais disponíveis.


Sistema Único de Saúde (SUS)

O processo transexualizador oferecido pelo SUS inclui:

  • Acompanhamento psicológico

  • Terapia hormonal supervisionada

  • Cirurgias de adequação corporal

  • Implantes de próteses de silicone certificadas

  • Suporte multidisciplinar contínuo



Um Olhar Para o Futuro

A solução para este problema passa por diferentes frentes:

  1. Educação e Conscientização:

  2. Campanhas informativas sobre os riscos

  3. Divulgação de alternativas seguras

  4. Desmistificação do processo transexualizador

  5. Políticas Públicas:

  6. Ampliação do acesso aos serviços de saúde

  7. Redução das filas de espera para procedimentos

  8. Capacitação de profissionais de saúde

  9. Suporte Social:

  10. Fortalecimento das redes de apoio

  11. Combate à transfobia

  12. Inclusão social e econômica



A erradicação do uso de silicone industrial é um desafio que demanda esforços conjuntos da sociedade, do poder público e dos profissionais de saúde. Enquanto existirem barreiras no acesso à saúde e persistir o preconceito, pessoas trans continuarão vulneráveis a esta prática perigosa.


A mensagem é clara: existem caminhos seguros para a transição de gênero, e nenhuma pessoa deveria precisar arriscar sua vida em procedimentos perigosos. O fortalecimento das políticas públicas de saúde para a população trans e a conscientização sobre os riscos do silicone industrial são passos fundamentais para mudar esta realidade.



Forte Abraço!




Referências:

  1. ANVISA. Resolução RDC nº 25, de 15 de janeiro de 2009. Estabelece o modo de indicação da substituição de silicone industrial por produto regularizado.

  2. Pinto TP, et al. Silicone líquido industrial para transformar o corpo: prevalência e fatores associados ao seu uso entre travestis e mulheres transexuais em São Paulo, Brasil. Cad. Saúde Pública 2017; 33(7).

  3. Ministério da Saúde. Processo Transexualizador no Sistema Único de Saúde - SUS. Portaria nº 2.803, de 19 de novembro de 2013.

  4. American Society of Plastic Surgeons. Position Statement on Liquid Silicone Injections. 2018.

  5. World Professional Association for Transgender Health (WPATH). Standards of Care for the Health of Transsexual, Transgender, and Gender Nonconforming People, 7th Version. 2012.

 

 
 
 

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